- Área: 209 m²
- Ano: 2015
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Fotografias:Lorena Darquea, JAG Studio , Roberto Alban
Processos
O Carrizal, é uma residência aberta projetada para um casal: um montanhista e uma historiadora de arte. Como metodologia de trabalho, os clientes foram instigados a sonhar sem limites, projetar suas vidas nestes espaços e juntos, cumprir passo a passo todos os desenhos combinados. Para conseguir estes objetivos foram feitas infinitas reuniões onde todos nos envolvemos em um processo arquitetônico/construtivo muito participativo. Desta forma, em algumas etapas do processo foram realizados mutirões entre amigos para unir forças, criar um sentido de pertencimento e economizar certos itens importantes.
Procurar as marcas do terreno
A variada informação física existente neste pequeno contexto foi a guia para descobrir condicionantes e estabelecer parâmetros responsáveis de ocupação. Na primeira instância se fez um mapeamento de todas as árvores (cítricas) existentes, assim como os muros adjacentes ao interior do prédio familiar. A ideia de preservar a natureza e criar vazios que liberem o projeto para o exterior, foram as primeiras conclusões que geraram uma implantação coerente e cuidadosa com o meio ambiente.
Com base nestes critérios, o projeto aparece como uma faixa longitudinal que se separa do piso e se acopla a uma mínima inclinação. Assim, também respeita a vegetação e incorpora ilhas verdes abertas que se relacionam diretamente com o interior.
Matéria, espaço e estrutura
Estética de ruína que simboliza o projeto: desgaste, imperfeição, envelhecimento e precariedade.
Desde o princípio, a residência recebeu a vocação de ser construída em terra e madeira, reinterpretando assim, as condições de uma arquitetura local. Desta maneira, foram utilizados materiais dos arredores desta zona do vale, tais como: adobe, tijolo, madeira e carrizo (espécie de bambu).
Definiu-se um sistema estrutural capaz de suportar o peso da 'terra' em altura e que, ao mesmo tempo, projetasse volumetrias com uma materialidade similar (piso, parede, teto) e espaços de intimidade que servem como grandes recipientes exteriores.
Como estratégia de construção conseguiu-se obter material que o Museu Interativo de Ciência havia rejeitado. Assim, por meio de uma limpeza do lugar, foi possível obter o material suficiente para começar o projeto e definir posteriormente alguns detalhes específicos. Ao total foram reutilizados 30 pilares de eucalipto.
(18cmts x 15cmts x 600cmts), 15 caixas velhas para armazenar fios de uma antiga fábrica e 270 tábuas de carpintaria.
Os pilares foram colocados durante uma semana através de mutirões organizados entre os clientes, amigos e o grupo de arquitetos envolvidos. A experiência foi dura, arriscada e exaustiva.
O interior da casa transmite harmonia com o entorno. Os materiais são cúmplices diretos que ajudam a transmitir calidez.
A sala é parte das ilhas verdes exteriores e mantem um fiel contato com a vegetação, convertendo-se em um espaço de relaxamento/desconexão para caminhar descalço e sentir o cheiro e a textura do jardim.
A circulação vertical, descolada do volume e transparente, conecta três ambientes: a área social/despensa, a cozinha e os espaços íntimos de descanso. Por sua vez, este espaço central, vazio e iluminado contém um jogo de caixas voadoras que ajudam a transportar objetos. Os cabos e roldanas representam os mecanismos utilizados para subir a montanha.
A residência possui um núcleo central que se projeta nas superfícies laterais e no forro. Além de concentrar as circulações, é onde nascem os espaços ao exterior.
Apesar da residência estar em uma área urbana definida e alimentada de infraestrutura básica, decidiu-se repensar a gestão de recursos e estabelecer assim uma ferramenta consciente de responsabilidade com o meio ambiente. Estabeleceu-se um sistema de coleta de água da chuva e, por meio de filtros vegetais, um mecanismo natural para tratar as águas negras e cinzas, que finalmente são depositadas em um pequeno reservatório de água artificial. Finalmente, utilizou-se um sistema de aquecimento solar para a água, o qual reduz significativamente o gasto energético da residência.